terça-feira, 30 de junho de 2009

lente


"Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem garanta que nem todas,
só as de verão.
No fundo, isto não tem muita importância.
O que interessa mesmo não é a noite em si,
são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre,
em todos os lugares, em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado."

[Shakespeare em Sonho de uma noite de verão]


Ando dormindo acordada...

sábado, 27 de junho de 2009

sapatilha.


Eu subi as escadas no impulso, direcionada ao que pretendia fazer, os corredores e andares estavam todos vazios, mas não precisei terminar o primeiro vão de escadas para que minhas lembranças tomassem conta do ambiente inteiro...
Eu podia ouvir nitidamente as vozes, a gritaria ao tirar zerinho ou um americano (me lembrar esse nome me fez rir), a correria pra ver quem chegava primeiro no último andar, e até aquele sonoro (mas baixinho) 'eeeeeeita' quando a bola "acidentalmente'' atingia o portão de ferro, fazendo um som estrondoso o qual nos fazia ouvir "DE NOVO?! Vou colocar todos pra dentro.", vindo de dentro do apartamento... Os pés descalços (não que eu tenha deixado de andar descalça e ainda ouvir as mesmas reclamações), correr no meio da rua pra pegar a bola que escapou pelos buracos do portão, brigar pelo controle da televisão, fazer fila pra comer a massa do bolo crua, ralar os joelhos e as mãos tentando fazer algo que eu julgasse possível mesmo que não fosse, para o meu tamanho...

Senti saudades da simplicidade que é (geralmente) aquela fase, da cabeça leve, de não ter que ser tanto! Decidi que subirei de vez em quando as escadas, só pra me inundar de boas lembranças...


terça-feira, 23 de junho de 2009

encontro.


O céu tinha um tom arroxeado, mais bonito do que sua escuridão de costume. - O tempo passou rápido, sem que ela percebesse. - O laranja estourou, iluminando-o e enchendo de brilho os olhos de quem o olhava. - Lentamente ela andou até o espelho e encarou a si mesma - O verde encheu o céu, ganhando mais alguns olhares fixos. - pegou sua bolsinha preta que estava logo ali na bancada e começou passando lentamente a sombra lilás sobre os olhos - E o amarelo veio cintilando o céu se desmanchando como se chovesse ouro. - depois passou o lápis, o rímel, o blush, todos numa sincronia desritmada com a música que se fazia ouvir. - O azul, cor de dia, encantou olhares e ouvidos, com sua graciosidade ao expandir-se. - Pressionou levemente o batom rubro sobre os lábios - O vermelho estourou acompanhado das outras cores, - soltou os cabelos, balançando-os levemente para jogá-los sobre os ombros. - os sons laranja, verde, amarelo, azul compuseram a melodia do vermelho. – Encarou seu reflexo por mais alguns minutos, parecia dizer a si mesma quem ela era. – A sinfonia inundou a noite. – Ela deitou e adormeceu.


sexta-feira, 19 de junho de 2009

fuga


"(...) qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra fora. Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento..."

[Martha Medeiros em A alegria na tristeza]

quarta-feira, 17 de junho de 2009

"ausente"


Ela chegou com o vento, entrou rápido e foi pousar na cadeira de forro vermelho, em sua posição comunal, mas algo fugia a normalidade de seus últimos dias, nem ao menos se trocou, usava uma de suas roupas coloridas e visivelmente confortáveis do dia-a-dia, ela não parecia estar preocupada com o que tinha pra fazer, ou com o que precisava ser feito, ela só ficou ali sentada, para quem olhava de fora, parada, mas se pudessem olhar por dentro veriam um emaranhado de pensamentos, sentimentos transbordando, um caos de sensações, não era algo novo com o que ela não soubesse lidar, mas era uma mistura de coisas boas e ruins, na dosagem certa, ela se sentia viva, mas sem se preocupar com os detalhes a cerca disso, em segundos a música surgiu em seus ouvidos, seus olhos se fecharam, ela não se mexeu, ficou ali, pra dentro, por longos minutos, nem se sabe ao certo quanto tempo...
O despertador tocou, ela pegou suas coisas e saiu apressada, quando ela fechou o portão o sol atingiu seu rosto, ela ficou parada alguns segundos de olhos fechados na direção do sol, deixando que ele esquentasse sua face, depois saiu caminhando devagar em direção ao 'só ela sabe o que', mas havia algo diferente...
Ela sorria com o olhar!


domingo, 14 de junho de 2009

mãos!

Existimos porque eles existiram, somos frutos das escolhas deles, somos muitas vezes o amor incondicional que alimenta e dá vida a seus corpos envergados de lembranças, somos de alguma forma uma extensão deles!

A vida não é o que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la.
[Gabriel Garcia Márquez em Viver para contar]


sexta-feira, 12 de junho de 2009

vermelho!


"(...)A gente nem sabe que males se apronta.
Fazendo de conta, fingindo esquecer
Que nada renasce antes que se acabe,
E o sol que desponta tem que anoitecer.

De nada adianta ficar-se de fora.
A hora do sim é o descuido do não.
Sei lá, sei lá, só sei que é preciso paixão.
Sei lá, sei lá, a vida tem sempre razão."

Quem te viu quem te vê! Algumas horas sob a melodia das músicas de Toquinho e Vinícius de Moraes enchem o peito de bom ar, enchem a mente de bons pensamentos, preenche de amor qualquer dúvida sobre a beleza do viver!

Saravá!

terça-feira, 9 de junho de 2009

gêtalk


"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... continuarei a escrever."
(Clarice Lispector)

(sempre né?)

sábado, 6 de junho de 2009

pelo casaco.


Eu sou boba! Me deixo levar pelas tolices dos meus sentimentos, alimentados por palavras, gestos... Hoje percebi que talvez tenhas uma briga dentro de si, cabeça versus coração, deve ser por isso que suas palavras naquela noite diziam uma coisa e seu tom, suas mãos e seus olhos diziam outra... Ontem, tive medo de estar enganada sobre você, tive medo de descobrir que o você que eu conheço ninguém mais vê, nem você, por isso toda essa coisa. Para mim, um dos melhores seres humanos que eu já conheci de caráter admirável, mas que ontem me fez hesitar.

"E assim nós vivemos brigando toda a vida, eu e o meu coração. Ele dizendo que sim e eu dizendo que não!"(Lupicínio Rodrigues)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

uma frase


Uma borboleta pousou no parapeito da janela, ela era de um laranja agressivamente belo, e seus desenhos, de um tom arroxeado, eram sutis e discretos. Ela ficou ali parada por longos minutos, como que observando a chuva forte que caia lá fora, esperando a hora certa de sair...
A chuva não parou, diminuiu um pouco, mas não parou, ela começou a bater suas asas, mesmo sem sair do lugar, parecia inquieta, ansiosa...
Fechei os olhos, apertando as pálpebras sobre eles, senti aquele abraço, sorri, e tornei a abrir os olhos.
A borboleta não estava mais no parapeito da janela, ela fazia contraste com o cinza do céu chuvoso... Lá fora...